por aqui, o que se vê ao redor são casitas cor de cimento onde nunca encostou a ponta de um pincel . Vemos arruamentos roubados à mata e buracos. Buracos que só não crescem em crateras pela teimosia da pá que continua a lançar-lhes a areia que já lhes cai solta de volta à mata. Mas também vemos pessoas que parecem imensas, vindas de todos os lados como formigas saídas de buracos. E ouve-se. Ouvimos sons martelados que fogem de dentro de enormes calhaus a que equivocadamente apelidam de rádios (made in china, pois claro); e sons lançados de uma altura tal que podem por termo à vidinha do tímpano mais robusto.
Tudo parece distorcido pelo movimento destas gentes. Mexem-se, não param quietos. Tudo se move à nossa volta, mas não depressa que o calor a mais não permite. E esta movida é incessante. De dia, à noite ou de madrugada, tanto faz, que os horários ficaram parados noutros locais. Todos se remexem, incluindo o petiz ranhosito acabado de saltar do dorso materno e que corre ou esgravata o chão sem sonhar que existe uma 5ª dimensão denominada “Toys’r’us”. Aqueles outros já com mais anos de vida vivida também se remexem (é-me difícil advinhar-lhes a idade porque, apesar das feições esgotadas pelo calor, a longevidade por estas latitudes ainda é um luxo). Estes, no entanto, há muito que trocaram os paus e latas feitas em carrinhos por outros objectos lúdicos. Gingam com garrafas de cerveja cheias nas mãos, rapidamente vazias por todo o lado feitas em cacos. É tanto este remexer que chega a cansar os sentidos, principalmente da audição, mas que a estranheza sentida não deixa contagiar. E outros sentidos também, a quem conduz por aqui, porque ao fugir de lhes acertar é como quem tenta sair num video-jogo de um campo minado com minas aos saltos.
São minas que desafiam a nossa passagem para nos levar a dançar o Kizomba…