Claire …
claire pensées , s’il vous plaît
Claire …
claire pensées , s’il vous plaît
diga-se o que se disser, não nos deixemos enganar que um escrito é sempre conjugado na primeira pessoa, antes de qualquer outra, com ecos que reverberam nos ouvidos do seu autor de forma inaudível para os outros
este Sr. MEC escreve muito bem, escreve, pois que escreve…
” O Amor em Portugal
Mesmo que Dom Pedro não tenha arrancado e comido o coração do carrasco de Dona Inês, Júlio Dantas continua a ter razão: é realmente diferente o amor em Portugal. Basta pensar no incómodo fonético de dizer «Eu amo-o» ou «Eu amo-a». Em Portugal aqueles que amam preferem dizer que estão apaixonados, o que não é a mesma coisa, ou então embaraçam seriamente os eleitos com as versões estrangeiras: «I love you» ou «Je t’aime». As perguntas «Amas-me?» ou «Será que me amas?» estão vedadas pelo bom gosto, senão pelo bom senso. Por isso diz-se antes «Gostas mesmo de mim?», o que também não é a mesma coisa.
(…)
A confusão do amar com o gostar, do amor com a paixão, e do afecto, tornam muito difícil a condição do amante em Portugal. Impõe-se rapidamente o esclarecimento de todos estes imbróglios. Que bom que seria poder dizer «Estou apaixonado por ela, mas não a amo», ou «já não gosto de ti, embora continue apaixonado» ou «Apresento-te a minha namorada», ou «Ele é tão amável que não se consegue deixar de amá-lo». Estas distinções fazem parte dos divertimentos sérios das outras culturas e, para podermos divertirmo-nos e fazê-las também, é urgente repor o verbo «amar» em circulação, deixar-mo-nos de tretas, e assim aliviar dramaticamente o peso oneroso que hoje recai sobre a desgraçada e malfadada paixão. “
in ‘A Causa das Coisas’ – Miguel Esteves Cardoso
(Thanks, MEC)
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uma manhã de domingo, de um domingo qualquer, mais um esforço de lavagem das saudades com água de cevada e malte fermentados. mais um dia em que tudo parece distante e tudo é insuficiente, porque aqui sempre nos falta algo. não é por acaso que um dos temas mais repetidos ao longo da semana de trabalho é o almoço de rescaldo no domingo. é que, deste lado, estamos constantemente com fome, fome de casa e fome dos que aqui não temos connosco. é assim que ao domingo vamos à praia dar sol às nossas barrigas cheias dessa fome.
somos gente com barrigas grandes que competem em tamanho com a avidez dos nossos olhares. temos fome e queremos comer. queremos saciar este vazio interior tão grande que nos faz gente nostálgica, gente presa a passados que o presente esvaziou de sentido. somos gente triste, mesmo quando nos rimos. somos gente com umbigos sobressaídos e com dificuldade em pendurar o olhar noutra coisa qualquer.
e acabamos o dia com as lamurias do que alguém já foi ou já fez, lamentos desinfectadas no excesso do álcool consumido. assim fechamos mais um dia, melhor acomodados.
somos, em mais uma manhã, gente que um dia partiu…
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” Não me interpretes mal
Não troques os sinais
Tu sabes que no fundo
Bem lá no fundo
Somos todos iguais
Malhas caídas
Esperança e pouco mais.
Não me interpretes mal
Não me queiras julgar
Sabes que a solidão
Deixa a razão
Fora do seu lugar
Malhas caídas
Pontas por apanhar.
(…)
Não me interpretes mal
Somos iguais na dor
Tu vais ver que afinal
Basta uma chama
Um pouco de calor
Um pouco de calor…”
o que acrescentaria a esta música? Nada!
obrigado aos seus autores!
(Manuel Paulo & Manuela Azevedo – Malhas caídas @ Assobio da cobra )
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todos precisamos do nosso momento de isolamento…
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pela vontade de se reflectir sobre decisões
para acomodar lá no íntimo algo que nos inquieta
para reencontrar o nosso eixo ou os pontos cardeais e seguir em frente
para… tantas coisas que só interessa a cada um por serem tão pessoais
e todos nós temos o direito a esse momento
(convém é nunca perder o fio que nos traga de volta…)
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e só não espeto aqui a música dos Chicago porque apesar da insónia ainda restam alguns neurónios para lá das pálpebras….
… mas fica a letra!
(ok, foi do sono)