dentro de dias faria anos uma das pessoas mais importantes na minha existência. à falta de outro conceito para definir algo mais, digo a mim mesmo que foi o “destino” que lhe traçou a curva da estrada – curva que é sempre demasiadamente estreita quando termina ainda a meio. se voltasse a ser pequeno pedia-lhe que aconchegasse as minhas saudades no seu abraço e secasse as minhas lágrimas com o calor do seu sorriso. e ser-lhe-ia tão fácil, pois que tinha ambos sempre prontos e disponíveis… sempre lustrosos e afinados. é a pensar nesse seu sorriso que instantaneamente me sinto recrescido e lhe brindo com o meu. e imagino-a a olhar por/para mim e a dizer-me “vai e sê feliz…”, porque sei que ainda o faz, mesmo agora.
“Só por um momento, na curva da estrada falas-me de ti, do rumo que tarda é hora de escolher, e p’ra ti é tudo ou nada
És filha do mundo, com vontade de mudar ……rompes o silêncio, à prova de bala dás-me a tua voz, que nunca se cala já não te queixas de mim, mas nada nasce no fim
Onde está a revolução, eu já não te posso valer descontas no tempo, um estado de graça beco com saída, fogo que não passa amanhã longe daqui, serei eu que te perdi Mas tu
Vai e sê feliz não olhes para trás (deixa lá) vai e sê feliz
E só + 1 vez, só de 1 vez vai e sê feliz por mim, sê feliz por ti
este Sr. MEC escreve muito bem, escreve, pois que escreve…
” O Amor em Portugal
Mesmo que Dom Pedro não tenha arrancado e comido o coração do carrasco de Dona Inês, Júlio Dantas continua a ter razão: é realmente diferente o amor em Portugal. Basta pensar no incómodo fonético de dizer «Eu amo-o» ou «Eu amo-a». Em Portugal aqueles que amam preferem dizer que estão apaixonados, o que não é a mesma coisa, ou então embaraçam seriamente os eleitos com as versões estrangeiras: «I love you» ou «Je t’aime». As perguntas «Amas-me?» ou «Será que me amas?» estão vedadas pelo bom gosto, senão pelo bom senso. Por isso diz-se antes «Gostas mesmo de mim?», o que também não é a mesma coisa.
(…)
A confusão do amar com o gostar, do amor com a paixão, e do afecto, tornam muito difícil a condição do amante em Portugal. Impõe-se rapidamente o esclarecimento de todos estes imbróglios. Que bom que seria poder dizer «Estou apaixonado por ela, mas não a amo», ou «já não gosto de ti, embora continue apaixonado» ou «Apresento-te a minha namorada», ou «Ele é tão amável que não se consegue deixar de amá-lo». Estas distinções fazem parte dos divertimentos sérios das outras culturas e, para podermos divertirmo-nos e fazê-las também, é urgente repor o verbo «amar» em circulação, deixar-mo-nos de tretas, e assim aliviar dramaticamente o peso oneroso que hoje recai sobre a desgraçada e malfadada paixão. “
tenho para mim que, algumas vezes, se me vissem, poderia ter sido confuso distinguir o riso despregado do choro convulsivo. talvez… mas apenas por quem os visse de fora.
é preciso tornar a fechar o abraço muito esperado em torno de alguém que se ama, ou deixar ir um abraço apertado sabendo que será o último, para se perceber a que me refiro. e então se sabe, desde lá de dentro, de onde eles vêm, o riso e o choro.
o riso e o choro, primos e antípodas.
já vivênciei dos dois em doses intensas, daquelas em que se sente desde o formigueiro nos braços ao sabor na boca.
tive o choro asfixiado em lágrimas, mas também o riso velozmente escorregando em lençois de água salgada.
experimentei, em certos momentos, o riso seco e escaldante, noutros o choro árido como o deserto.
tive riso que me libertou e criou ligações duradouras. tive choro quando carecido de alívio mas que não rompeu qualquer amarra.
já fui rejuvenescido pelo riso e já me consumí em choro.
algumas vezes senti dores de tanto rir, noutras senti dor acumulada que de tanta o choro explodiu como uma erupção.
tenho sempre saudades de rir, mas receio e quero longe o choro.
o riso e o choro, esses dois siameses aprisionados no mesmo corpo.
sei que tenho com ambos datas marcadas para reencontros futuros. não me importo. pois que venha o riso para o meu bem-estar, que eu do choro farei uso para me reconstruir, como derradeira catarse.